sábado, junho 16, 2007

Daqui, também o fim

É verdade que neste salto de tempo há ainda tanto por contar, de entre muitos casos, dě-se importancia á ida a Freiburg, ao jogo do lobo, ao regresso dos filhos (de questionáveis prodigalidades) á Coimbra intemporal, ao sentimento de estar onde se queria estar no momento exacto, ás técnicas musicais da ANITA no piano e á nova santidade que a MAGUI confere á hora do café (que expressamente me manifestaram o desejo de ver os seus nomes timbrados nas linhas deste blog). Se é verdade tudo o que supra disse, urge no entanto agora, dar resposta ás palavras do Nocas e carpir ainda o fim deste ano. Se é dito comum que o tempo passa a correr, sou todavia levado a crer que este ano acoteceu num sprint final, ainda hoje consigo lembrar o sentido de revelacao e novidade dos primeiros dias. E de repente, toda esta existěncia que se edificou sobre uma cidade própria, mas também sobre as pessoas que tornaram este ano especial, tudo isto que durante um ano era a minha certeza e conviccao, atomiza-se com a partida amiúde da gente. De dia para dia há mais um que abala na incerteza de nos voltarmos a ver. Que o mundo é grande, e já se disse, o tempo passa a correr...

De resto, neste ano é difícil definir o que dele se traz. No meu caso, nao é qualquer coisa palpável, sei que aprendi algo, sei que aprendi bastante, mas custa tracar a recta que separa o antigo do meu novo conhecimento. Se estou diferente? Talvez sim, mas penso que nao. Porque o essencial de uma pessoa, passei eu a acreditar, demarca-se ainda quando somos criancas. Definimo-nos nos momentos ingénuos em que os dentes nos rompem as gengivas e aquele que hoje fundamenta mal ou bem uma determinada opiniao sobre o aborto, é ainda aquele que entre desenhos e castelos de areia mal desconfiava de onde viriam os bebés. Muda-se a perspectiva e expande-se o campo cognitivo, mas os valores mais básicos mantiveram-se cristalizados dentro de mim. Nao é raro lembrar-me de situacoes várias de infancia em que confirmo hoje quao acertado eu estava entao, ou quao caprichoso eu fora, sendo esses os mesmos caprichos de agora, por vezes cinicamente reprimidos. É por isso que sou levado a crer que me reconheco mais que nunca na pessoa que deixou Portugal em finais de Julhos do ano velho, sem saber entao que o tempo pode ser mais veloz ainda que a nossa vontade de descobrir o mundo.

Contudo, o adeus nao está a ser forcosamente doloroso. Estranho e esquivo serao porventura melhores adjectivos. Ainda há algo aqui por fazer, e isso ocupa o pensamento. De resto, o fim do Erasmus coincide com o início de uma coisa maior. Coincide com a conviccao de que nao há fronteiras para a nossa vida. Que o mundo em nosso redor pode ser tao confortavelmente diferente e tentador. Que a língua ou cultura nao devem ser um obstáculo á nossa decisao de partir e que, justapondo á amizade todos os outros sentimentos, nenhum deles tem nacionalidade. E isso nao é pouco, é grande, é enorme!

E Nocas, estas últimas palavras sao para ti. É sempre um contentamento absoluto ler o que escreves e ficar sem jeito face aos teus elogios e preocupacoes. É difícil responder á altura porque sabes bem que eu sinto as coisas mas raramente as revelo, ocultando-as antes atrás desta ausěncia de palavras. Fui cheio de saudades tuas para Coimbra e foi com pena que de lá parti se nao com as mesmas, ainda com mais saudades. Porque estivemos tao pouco tempo juntos e mal trocámos palavras. Dě por onde der, vamos ter de nos encontrar este Verao! Um abraco enorme.

1 Comments:

Blogger nocas2 said...

sim, coimbra foi curto para tanta coisa mas já se sabia
depois d tanto tempo fora temos de repartir o tempo e sei que o entendes
obrigado pelas palavras...eu sim fico pregado ao chão quando leio o que escreves
de facto ja não ha fronteiras
forte abraço

16/06/2007, 20:18:00  

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