sexta-feira, março 23, 2007

Interlúdio

No outro dia que nao o de ontem mas o anterior, estando eu prazenteiramente numa das salas estilo-francěs de início de século XX do tout-glamour Café Louvre, degustando um espumoso cappuccino em chávena de boca larga irmanada por uma insuspeita (estima nacional!) água gaseificada, aposto forte em Dobra Voda Perlivá de garrafa 5 litros verde, num copo XS transparente "made in Russia" número 31 na base, dizia eu, estando eu a ver o tempo passar lá fora, sentado numa mesa para quatro deste primeiro andar sobre a movimentada Narodní Třida, nao muito longe do Teatro Nacional e perigosamente perto do cheiro a óleo requeimado que escapa dos stands de Kobličkova´s, Smažený Syr´s (Smažené Syry, arrisco agora no plural checo) e outras frituras junto ao Tesco, ia eu dizendo, o tempo escorria em cachoeira do outro lado da janela, do lado dos trilhos dos day-trams 6, 9, 10, 18, 21, 22 e 23, mas mergulhando aqui languido na espuma do cappuccino primorosamente tirado por um anónimo, por certo impecavelmente trajado, deste Café Louvre, čislo 22, Narodní Třida (Avenida Nacional). Falava eu a propósito de um tempo fugidio que me era tao caro, ia claustrofobicamente apertando esse mesmo tempo para elevadas obrigacoes de terminar uma semsaborona apresentacao sobre terapias analgésicas, anti-inflamatórios nao-esteróides, diclofenacs, morfinas e heroínas, foi tempo ainda do lado de cá da janela de vidro duplo sobre o 22 que nesse momento talvez passasse em anúncios de próxima paragem (přiští zastafka: Narodní Divadlo), dizia, nesse tempo frouxo e sensual, mergulhado em misturas de café espresso, leite vaporizado e sua respectiva espuma, a precisar, um terco exacto de cada parte, dava eu uma das primeiras goladas e quem nao enxergam estes dois olhos, adiantadamente prometidos á terra e gastos de letras e raios ultra-violeta, quem é senao, Vacláv Havel, primeiro presidente da vetusta Checoslováquia pós-Revolucao de Veludo, escritor, dramaturgo e herói nacional. Também "um dos homens que mudou o mundo" terei dito eu a quem entao me acompanhava, porventura em excessos de emocao e catecolaminas...

2 Comments:

Blogger Gustavito said...

Narodní Třida, Narodní Divadlo, Café Louvre, Tesco são palavras que ainda me soam familiares pois estive aí há um ano e deixam-me perceber o ambiente onde tens essas divagações.
O menino trata-se bem no requintado Louvre. Mas olha que os cappucinos italianos merecem ser presenteados com a tua presença (dás cá um salto?teria muito gosto) e têm também a aguinha gaseificada, pode é não ser no copo russo com numero 31.
Continua em grande. Abc Erasmico

05/04/2007, 01:57:00  
Blogger syddartha said...

Pois, pois, mas avisar que na verdade o 10 nao pára em Narodní Divadlo, antes vai para Moraň e daí em diante no lado de lá do rio, tá quieto... Entao Gustavo, vontade tinha eu tanto de aí ir como de te receber por cá. Nao seria uma repeticao mas um aprofundamento de Praga, ainda para mais agora que está um tempo fantástico. A ida aí está difícil, mas isto nao é um nao redondo...
Um grande abraco

22/04/2007, 00:10:00  

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